Por Alinne Andrade e Petrúcia Tavares Fotos internet
Lenilda de Oliveira Rodrigues, conhecida como Branca, conversa com seu irmão, Nivaldo Oliveira. Os dois são funcionários de uma mesma rede de calçados em Divinópolis. A diferença é que ela é vendedora de uma loja que abrange o setor popular e ele gerencia outra, que atende a classe média. Os dois falam sobre a crise econômica mundial.
“É, já pudemos sentir o impacto”, comenta Nivaldo, pesaroso. E continua: “Estavam dizendo que não ia afetar o Brasil, mas o povo já está com medo, começaram a economizar e acho que o Natal não será dos melhores para as vendas. Na semana da greve dos bancos, tivemos uma grande queda.” Branca reforça o que disse o irmão: “ Também percebi que as vendas ficaram um pouco mais lentas, mas para nós não fez muita diferença porque pobre não muito dinheiro para guardar no banco. Pobre compra com os trocados que tem no bolso e vão continuarfazendo isso. Agora, quando chegar o décimo terceiro, única época em que o pobre ganha mais, aí pode ser que eles não gastem o dinheiro como de costume.”
A conversa entre os dois irmãos retrata, em parte, o que as pessoas comuns estão vivenciando com a vinda famigerada crise econômica. Alta na taxa de câmbio, aumento dos juros, desvalorização do real face ao dólar e queda das bolsas de valores pelo mundo afora, conversa que a maioria dos brasileiros não entendem, mas já sabem ser sinal de alerta. No entanto, nesse caso, a fumaça pode ser mais letal do que o próprio fogo.
Em muitos casos, deixando um pouco o perigo de lado, o fogo pode ser purificador. Na semana que se passou, um dos maiores gurus da economia neoliberal - agora não tão guru assim -, Alan Greenspan, ex-presidente do FED (Federal Reserve, o banco central estadunidense), declarou a público que presenciou a queda de máximas nas quais baseou sua experiência de vida e a economia dos EUA. Algo em relação à auto-regulação do mercado e a não intervenção do Estado. Ao que parece, a crise ao menos serviu para acordar alguns gigantes e mostrar que o modelo econômico do capitalismo selvagem está falido. Mas o que acontece na vida real? Como ficam as pessoas comuns?
Nos jornais de Divinópolis, por exemplo o “Agora”, de maior circulação na cidade, há reflexos da imprensa do mundo inteiro. Especulações que oferecem como manchete ora a possibilidade do aumento do pão, ora o colapso do setor confeccionista, ou ainda a queda das vendas de automóveis. Com uma economia tão volátil, conforme a que vivemos, esse pode ser o desencadear de uma crise ainda mais séria.
Para fazer com que o dinheiro volte a circular no mercado, o Banco Central divulgou no último dia 17 uma medida alterando as regras do recolhimento compulsório dos bancos - parte dos depósitos, à vista e a prazo, que as instituições devem manter junto à autoridade monetária.
Com todo esse esforço, o BC tenta destravar o mercado, que tem sofrido com a falta de dinheiro em circulação entre os bancos. Se os bancos e as empresas responderem ao estímulo, a crise poderá ser amenizada e a assombração terá uma cara menos assustadora.
A despeito do que existe de concreto quanto à economia, é importante que se tenha noção da porção virtual da história e ciência de que, por mais grave que seja a enfermidade, deixar-se abater é o mesmo que pedir para que ela demore a ir embora. Sair da cama, mesmo que com precaução, e voltar à rotina pode ser o melhor remédio.