Apesar da chuva, festa de origem africana em homenagem a
Nossa Senhora do Rosário movimenta as ruas da cidade
As poucas ruas da cidade de Leandro Ferreira, que em dias normais disputam os passos lentos de um ou outro transeunte solitário, se enchem de pessoas, vindas dos lugares mais improváveis: é a tão esperada festa do reinado. Este ano ela foi realizada no molhado final de semana dos dias 21, 22 e 23 de outubro. A cidade, que fica a alguns quilômetros da cidade de Pitangui e possui pouco mais de três mil habitantes, só se alegra assim três vezes por ano. As outras duas ocasiões em razão do aniversário de nascimento e de morte de Padre Libério, que viveu muitos anos na cidade e está em processo de beatificação.
A festa em questão, o reinado, homenageia Nossa Senhora do Rosário por meio de danças e de músicas com fortes raízes na cultura africana. As congadas, conhecidas como cortes, são os grupos que desfilam pela cidade nos dias de festa. Com roupas coloridas e enfeitadas com fitas eles tocam sanfona, zabumba, pandeiro, cavaquinho e visitam as casas dos festeiros da coroa - aqueles que guardam coroas e as bandeiras que simbolicamente seriam entregues à santa durante a festa e os levam acompanhados até a igreja. Durante o trajeto, a rainha e as princesas do corte recolhem esmolas para a paróquia da cidade. Vários cortes movimentam as ruas da cidade nos dias de festa, alguns são da cidade, mas também tem os que vêm de municípios vizinhos.
Quem explica o funcionamento das celebrações é Maria Aparecida, 52, que nasceu e cresceu na cidade. Segundo ela, a festa sempre foi grande, mas aumentou bastante desde a morte do Padre Libério, no ano de 1981. Uma característica marcante das festividades é a enorme quantidade de barraquinhas, montadas com lona, que comercializam todo o tipo de mercadorias. “Antigamente a quantidade de barracas de comércio era menor”, relata a festeira. “Hoje em dia encontramos de tudo, desde roupas, sapatos até DVDs e CDs piratas”, acrescenta.
A economia da pequena cidade de Leandro Ferreira gira em torno das festividades religiosas. Devido à crescente fama de Padre Libério, que foi enterrado na cidade e que apesar de ainda estar em processo de beatificação no Vaticano, já é considerado um santo pelos moradores e visitantes da cidade, o número de pessoas que visitam a cidade nos dias de festa cresce a cada ano. A prefeitura municipal até adotou essa devoção como slogan: “a cidade da fé”.
Por Mariah Vianna e Renato de Faria
Por Mariah Vianna e Renato de Faria