“DIA ESTRELADO”: A VOLTA DO BRASIL PROFUNDO


Do dia 4 a 13 de novembro Recife se tornou sede de um dos grandes festivais de cinema: o Janela Internacional de Cinema. Em sua quarta versão, o evento teve a exibição de 12 filmes comerciais, 60 curta-metragens, Sutjeska Film (um panorama iugoslavo de 20 curtas produzidos entre as décadas de 1960 e 1970), a filmografia completa de Kubrick, além de oferecer várias oficinas e discussões.
Entretanto, o destaque vai para um curta que possui um gênero ainda pouco explorado no país: uma animação em stop motion, intitulada Dia Estrelado. O filme, dirigido por Nara Normande e que possui influências desde Van Gogh até o contexto regional nordestino, teve sua estréia no festival.
A trama, com uma sensibilidade impressionante, conta a história de uma família que tenta sobreviver em uma região seca, sem vegetação, com pouca água. O cenário retrata o regionalismo nordestino em um típico sertão, com sua aparência seca, seu calor e solo arenoso.
Os personagens foram modelados pela própria diretora do filme com massinha e articulados com esqueletos de arame, para que seus movimentos pudessem ser realizados de forma suave e sem estragar os bonecos. A estética é tão fascinante que até os cabelos ao vento dos personagens foram realizados a partir do estudo sobre o movimento em humanos. Assim como o andar, a abertura e o fechamento dos olhos, entre outros movimentos.
O nome Dia Estrelado veio da inspiração do quadro Noite Estrelada, de Van Gogh. No curta não poderia ser diferente: o céu ao fundo do cenário é a própria noite do pintor, porém em cores que remetessem ao dia e ao calor, feito todo em massa de modelar, preservando a textura de pinceladas grossas (característica essencial da pintura de Van Gogh). Em apenas uma cena do filme o dia vira noite e, para isso, os artistas do curta tiveram que substituir o vermelho e amarelo do céu pelo azul – o que acarretou em um mutirão para pintar o fundo aos poucos, enquanto acontecia a filmagem, para criar a sensação de que o dia estava de fato, se tornando noite.
O curta foi feito com câmeras fotográficas, que capturavam 12 quadros por segundo a partir de um software de computador. As maquetes do cenário possuíam cerca de quatro metros e cada personagem tinha aproximadamente três outros modelos iguais, devido ao desgaste durante as filmagens. O filme, com duração de 12 minutos, demorou quatro anos para ser concluído e foi financiado por meio de leis de incentivo à cultura.
De acordo com Nara, a diretora pernambucana, sua intenção era reunir várias artes no cinema: as artes plásticas, a fotografia e a escultura. E o resultado é fascinante: as cores, a textura, a iluminação, a trilha, a estética dos personagens e até mesmo a falta de falas no filme contribuem para sua beleza e sensibilidade.
Dia Estrelado foi premiado no festival Janela Internacional de Cinema nas categorias: Melhor contribuição artística e Janela Crítica (curta brasileiro). O filme será exibido novamente no I Festival Internacional Brasil Stop Motion, que acontecerá entre os dias 22 e 26 de novembro, em Recife também. O curta-metragem ainda percorrerá as telonas do cinema nacional e internacional em 2012.
As premiações e seleção para festivais internacionais comprovam não só o sucesso e aceitação da crítica do filme, mas também que o Brasil está sendo bem representado dentro de seu circuito audiovisual não comercial, principalmente em um gênero tão delicado e trabalhoso como a animação em stop motion.



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