CARA KARINA

Cantora baiana radicada no Pernambuco lança disco inédito.
Músicas estão disponíveis para download no site oficial.



Título do CD: Longe de Onde
Artista: Karina Buhr
Gravadora: Coqueiro Verde


Quando se fala em vozes femininas da música brasileira, nos vêm à cabeça diversos nomes, que perpassam diversos estilos. Do axé ao rock, depende do gosto do freguês. Mais precisamente no rock (que é o estilo que vamos nos limitar aqui) esses nomes se acentuam mais. O rock, desde o princípio de sua história, é constituído basicamente por representantes masculinos. Mulheres que lideram o rock são consideradas revolucionárias, cheias de atitude. Rita Lee que o diga – e ainda está na ativa. E por falar em atitude, eis que surge do estado baiano uma cantora que também tem revolucionado a música brasileira. Trata-se de Karina Burh. Criada em Recife, Pernambuco, a moça faz um som diferente de tudo que ouvimos e nos parece tão comum.
Para quem já conhece a música do álbum de estréia de Karina, Eu menti pra você, lançado em 2010, com mais características de suas influências de música regional, pode esperar algo nem tão suave, nem tão dramático. Prevalece mesmo é seu peculiar sotaque, que, cantando, fica uma graça ainda maior.
Em seu recente álbum intitulado Longe de onde, Karina Buhr se inspirou desde o design da capa e seu videoclipe da música que abre o disco, “Cara Palavra”, num dos países mais exóticos do mundo: o Marrocos. A beleza árabe influenciou o estilo da cantora em seu vídeo, onde ela aparece fantasiada com uma burca, mas ainda assim, vestindo sua calça preta brilhante e justinha. Nas ruas movimentadas de Casablanca, ela faz coreografias extravagantes, quase esquizofrênicas, que espantam os transeuntes, que passam olhando desconfiadamente – o que se percebe logo de cara no clipe, e que prova que nada daquilo foi combinado de forma teatral.

Cada faixa que segue é uma surpresa diferente. Suas letras, curtas e precisas e de caráter bastante ácido, acertam o alvo no primeiro tiro. Karina diz tudo o que uma mulher gostaria de dizer a um homem, tenha ele relações sentimentais com ela ou não, e que muitas mulheres talvez não tivessem coragem de dizer (mas Karina tem!)
A sonoridade de todas as faixas tem algo em comum: lembram bastante as baladinhas de rock de um final da década de 80 que começam a conhecer um bom rock n’ roll. A própria Cara Palavra vai mais além e ainda traz elementos de punk rock, com seus vocais agressivos e guitarras agudas e afiadas, executadas pelo veterano e ex-Ira! Edgard Scandurra e Fernando Catatau da banda cearense Cidadão Instigado. Além destes, a trupe que compõe a banda conta com Bruno Buarque na bateria e gongo, Mau no baixo, André Lima no piano e órgão e Guizado no trompete.
Na sétima faixa do disco, Cadáver, Karina toca um estilo de reggae, com pitadas de órgão e trompete que beiram certo tom cômico à música. A letra, mais uma vez, leva a reflexão: ao invés de aprender com a vida e o tempo, para quê insistir em permanecer cultivando defeitos, talvez até sem perceber, se a morte é certeira? E por falar em morte, na nona faixa Copo de Veneno Karina canta sem medo de morrer Por favor, me dê um copo de veneno, pelo menos, com duas pedrinhas de gelo - ainda dá o golpe de misericórdia. A bateria de Bruno Buarque é bastante marcada e renitente, seguindo quase num só ritmo, até chegar ao ápice da música ao juntar com solos eletrizantes das guitarras, quando de repente um som agudo parecido com um tiro surge ao fundo, finalizando a faixa de quase três minutos.
Na seqüência, faixa dez Amor Brando, a cantora compõe um harmonioso dueto com Edgard Scandurra, só voz e guitarra. É a canção mais suave do CD, desde sua letra, o dedilhar de cordas do instrumento, na qual Karina suaviza mais a voz. É também a mais curtinha, com apenas um minuto e 34 segundos.
Sem deixar de mencionar a oitava faixa, The War’s Dancing Floor, sua composição em inglês (por sinal, impecável), lembra bastante, e conforme lembra o nome, aquelas músicas que tocavam em discotecas nos anos 70.
O som de Karina Buhr é diferente. Estranho, mas no bom sentido. O rock é isso: é plural, é autêntico e é sujo. É simples. E Karina é isso. Ela é rock. Longe de onde pode ser baixado, em download, no site oficial da cantora.

Texto: Tatiane Fonseca
Edição: Fabrício Terrezza

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