Viciados em crack recebem bolsa-tratamento de R$900
Apesar de não haver um número oficial, a Subsecretaria de Estado de Políticas Antidrogas considera que o problema do crack atinja pelo menos 1% da população, ou seja, 190 mil mineiros. Por estes números não dá para saber se as políticas de Estado estão estimando o flagelo de dentro e fora das casas. A astúcia do Governo Mineiro bolou um plano infalível, uma “sábia” medida para frear o uso do crack: os dependentes receberão até R$ 900 por mês, que serão revertidos no tratamento contra o vício. Trata-se de um cartão bancário que, segundo os tecnocratas que bolaram a ideia, ficará na mão dos familiares. Ora, se roubam até os azulejos, quem dirá um cartão. Ah, os donos da bola (sem qualquer trocadilho) afirmam que apenas R$ 90 serão repassados para os usuários da droga para o custeio do transporte – só não dizem para onde é a viagem.

No passado, não muito distante, um padre da cidade da diocese de Divinópolis montou uma campanha para conscientizar as pessoas de não darem esmolas. Naquela época, o perfil de quem pedia esmolas era um: desempregado, sem oportunidades e com um grau de envolvimento em álcool ou drogas. Hoje, se a pessoa não dá esmolas, corre o risco de ter os pneus furados, como foi o caso deste articulista.
Não adianta jogar a culpa em ninguém, mas a união de esforços está atrasada. Ninguém sabe como combater: sociedade civil e poder público estão de mãos e pés atados ao se depararem com um problema sem limites. E sem fronteiras porque envolve a violência urbana na mente de quem quer usar algo que não tem ou deseja ter.
O mal entra e destrói, principalmente, em uma sociedade sem valores. A família, a religião e o trabalho eram instituições firmes, sólidas. Hoje, o trabalho é temporário, as religiões estão se dissolvendo e a família não é mais a mesma – o problema capitalista, o individualismo e as transformações de gênero desmancharam outros valores que davam suporte para reerguer a moral de um cidadão decadente. Tanto é que não se pode duvidar que uma das cláusulas do contrato entre as “famílias” e o governo podem ser burladas. O texto diz o seguinte: “É um cartão bancário que ficará com os familiares dos pacientes. O repasse será feito enquanto durar o tratamento, tempo estimado em até nove meses, prorrogável por até dois anos”. Então fica combinado: todos os viciados em uma das drogas que mais rapidamente causa dependência química precisam se livrar dela em dois anos.Depois disso, é vagabundagem.
A educação é possível, a coerção e medidas sanitárias de retiradas de grupos de usuários que ocupam, cada vez mais, espaços às vistas da sociedade também, mas e o tratamento?
O tratamento tem sido utilizado com o modelo que substitui uma dependência pela outra, todas as quase dez clínicas terapêuticas em Divinópolis tem o nome de algum santo ou com menções que falam ao espírito. Imagine: em um universo de quase 20 mil dependentes nesta cidade, não existe uma clínica pública e laica.
As instituições apresentam graves problemas de violação dos direitos humanos, como higiene e condições de acomodações precárias. Não existe uma forma de tratamento ou triagem das pessoas: seja por conta própria ou por intervenção do Estado. Da forma como está, são meros depósitos de gente. Isso, sem falar nas formas de reinserção social do dependente de álcool e drogas. O ideal parece ser apenas o ideal de que em vez de formas religiosas, medicamentos de tecnologia avançada, capacitação profissional e terapias ocupacionais podem dar outro rumo na vida dessas pessoas. A família, aí sim, entraria para ajudar a criar uma perspectiva profissional ou familiar para essas pessoas.
Não são programas que pescam o peixe para o sujeito, neste caso pagando mais que uma família ganhava de seu suor, que vão solucionar. Claro que no início é bom comprar o peixe para quem precisa, mas é preciso mostrar o valor daquele peixe e dar condições para que o ajudado crie possibilidades.