A OUTRA HISTÓRIA DO BRASIL




O Brasil foi descoberto em 1500 pelos portugueses, que exterminaram cruelmente os índios e trouxeram milhões de pobres africanos escravizados para construir a nação brasileira. É mais ou menos assim que a História do Brasil é ensinada nas escolas. Ou melhor, era, pois “é hora de jogar tomates na historiografia politicamente correta”, é o que brada Leandro Narloch em seu livro “Guia politicamente Incorreto da História do Brasil”, lançado em 2009.
Nesse livro, o autor reúne uma coletânea de pesquisas históricas recentes sobre o Brasil, mas que são como ele mesmo afirma, “irritantes e desagradáveis, escolhidas com o objetivo de enfurecer um bom número de cidadãos”. E o motivo de tal irritação é que estas novas pesquisas vão de encontro com ideias arraigadas sobre a História do Brasil, aquelas que o seu professor de História do colégio tem o orgulho de trazer na ponta da língua.
As novas pesquisas tentam elaborar conclusões científicas baseadas em arquivos inexplorados (ou ignorados) de cartórios, igrejas ou tribunais e pesquisam “sem se importar tanto com o uso ideológico de suas conclusões”, afirma Narloch. As interpretações que trazem são mais complexas, diferente das explicações simplistas usadas “no processo de fabricação de um espírito nacional”, para o qual, segundo o autor, “é normal que se inventem tradições, heróis, mitos fundadores e histórias de chorar, que se jogue um brilho a mais em episódios que criam um passado em comum para todos os habitantes e provocam uma sensação de pertencimento”.
O livro traz relatos que derrubam, por exemplo, a visão de um “indianismo romântico”, que retratou os nativos como bons selvagens donos de uma moral intangível. Sem negar as caçadas que os índios sofreram, os pesquisadores mostraram que eles não foram apenas vítimas indefesas, mas que participaram ativamente da História do Brasil. Foram os próprios índios que mais mataram índios e que, antes mesmo da chegada dos portugueses, já destruíam a mata atlântica ateando fogo para abrir espaço de cultivo e cercar os animais para depois abatê-los. E uma coisa que também fica fora dos livros de História é que o contato entre brancos e índios também matou milhões de europeus.
Outros incômodos relatos sobre a História do Brasil dizem que “os primeiros sambistas, considerados hoje pioneiros da cultura popular, tinham formação em música clássica, plagiavam canções estrangeiras e largaram o samba para montar bandas de jazz. "Nas vilas do ouro de Minas, havia ex-escravas riquíssimas, donas de casas, joias, porcelanas, escravos, e bem relacionadas com outros empresários”, diz o autor do livro. E há mais: foram os negros que ensinaram os portugueses a escravizar os negros e Zumbi, o maior herói negro do Brasil, o homem cuja data de morte se comemora em muitas cidades do país o Dia da Consciência Negra, mandava capturar escravos de fazendas vizinhas para que eles trabalhassem forçados no Quilombo dos Palmares.
Até mesmo o “pai da aviação”, Santos Dumont, foi destituído do título de inventor do avião. Como afirma Narloch, “na verdade é um pouco infantil insistirmos que Santos Dumont inventou o avião. O crédito dessa descoberta é obviamente dos irmãos Orville e Wilbur Wright”. Dentre as conquistas do brasileiro não estão nem mesmo a invenção do relógio de pulso, ideia tão massivamente divulgada.
“O problema é que essa nova história demora a chegar às pessoas em geral”, lamenta Leandro Narloch. E quando chega, não é digerida facilmente ou fica entalada na garganta. Mas vale a pena conferir o “Guia politicamente incorreto da história do Brasil”.
Texto: Renato de Faria
Edição: Mariah Vianna

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