O DOMINGO ANTES DA SEGUNDA

A 8ª  Parada do Orgulho LGBT muda a rotina do domingo divinopolitano

O local usado pelo Movimento Gay de Divinópolis (MGD) para a concentração da 8ª Parada do Orgulho LGBT foi o pórtico do Centenário da cidade, situado na avenida Primeiro de Junho esquina com Rua São Paulo. A concentração do público à frente do estridente som do trio elétrico teve início às 12h e a marcha prevista para às 17h, mas apenas os organizadores compareceram em um horário que tradicionalmente é do almoço das famílias. A passeata começou um pouco atrasada, causada por um impasse da não autorização do Corpo de Bombeiros da saída do trio. Mesmo assim, a enorme bandeira da diversidade  foi empunhada por homens e mulheres gays caracterizados de acordo com os mais variados graus de expressão da homossexualidade, das mais variadas etnias.

Segundo o Corpo de Bombeiros, mais de mil pessoas se divertem, se beijam e se abraçam e seguem o caminhão do som potente. Deveria ter sido ao som de "All By Myself", canção que fez sucesso nos nostálgicos anos 90, interpretada pela canadense Celine Dion que, graças a Deus, anda sumida. Mas, um problema no sistema de som interrompeu um número musical que, naquele de 4 de setembro de 2011, ritmou as declarações de vários grupos políticos locais. O mote de todas as mensagens ao microfone são as versões sobre “a família: unidade e diversidade em transformação”. Sem perder um instante, o presidente da MGD, José Marcelo, segue rebolativo avenida a fora ao som da cantora americana Beyoncé, musa das nove em cada dez gays (dizem que o décimo é surdo).

Nesse domingo, homens e mulheres andam de mãos dadas com parceiros do mesmo sexo sem serem incomodados. Aos poucos, o território começa a ser demarcado. O local onde é conhecido da população como camelódromo hoje está com alvará para pessoas que querem ser reconhecidas e respeitadas. José Marcelo diz que “será um dia importante, em busca de posicionamento social, muita descontração farão parte das atividades”, ele conta.

Alan Santos tem 22 anos e está desempregado. Hoje, entretanto, está mais preocupado em subir no palco, sem remuneração, e fazer uma boa apresentação de dança - simplesmente pela paixão. No momento Alan atende pelo nome de Fisher, uma homenagem, que segundo a drag queen, é feita para a atriz Vera Fisher.

Caminhando em meio a um forte cheiro de perfume, de esguelha, os populares na calçada lançam olhares um tanto escandalizados aos transsexuais e homossexuais que andam pela avenida. Dentre a marcha, uma pessoa que não quis se identificar, trajando “esporte fino”, aparentemente emocionado ao falar de como ainda é difícil falar ser homossexual. “Na minha época era na base da pedrada, do preconceito. Ser gay nos anos 80 era muito difícil. Aquilo que sofremos nos lugares públicos, como xingamentos e exclusão da sociedade estão quase superados. Ver todo esse movimento hoje e a ampliação de nossos direitos sociais e civis de pessoas LGBT é um avanço”, revela. Enxuga as lágrimas. Um rapaz que estava ao lado intervém e diz que “os homossexuais enfrentam um preconceito velado muito forte na sociedade, assim como outros grupos minoritários”.

Em meio à multidão multicolorida, um frei, a caráter, caminha sob as expressões de narizes torcidos e testas franzidas. Frei José da Cruz profere a palavra no Santuário de Santo Antônio, a dois quarteirões do local. O alemão, que entende a linguagem, portuguesa diz que o evento se aproxima de um carnaval e, ao ser perguntado sobre o emblema do evento, é taxativo. “Família é a formada por homem e mulher”. E completa: “a união homo afetiva é um reconhecimento cível, entendida como a união de duas pessoas.” Ele se repele, ao dizer que a maioria das pessoas que ali estão são heterossexuais, e caminham sentido ao Santuário, sem olhar para trás. Já o coordenador geral do evento, Adam Piter, assim como a maioria do público presente, entende que nem aquela família pai, mãe e um ou dois filhos, conhecida como "família margarina" representada nas propagandas da Doriana, existe mais. Para Piter, indiferentemente da sexualidade, a família pode estar em transformação e que é mais importante entre as famílias, e a vida em sociedade, é o respeito. “O gay não é um ser noturno, ele precisa ser assistido em todas as áreas da vida”, ressalta.

A cultura gay se sentiu representada. É quase hora da missa dominical. A caminhada, na centenária cidade de Divinópolis, se dispersa pela rua Goiás. Ao cair da noite, o público presente foi convidado a dar continuidade da festa em um bar tipicamente GLS ao final da Rua Pitangui. Além das apresentações, durante o evento foram oferecidos, gratuitamente, vacinação contra hepatite b e distribuição de preservativos.

Redação: Fabrício Terrezza
Edição: Tatiane Fonseca

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