MISTURAR REMÉDIOS PODE SER PERIGOSO

Maria Helena confessa tomar remédios sem receita médica
Uma doença não respeita o limite da outra. A aposentada Maria Helena Nunes Cançado diz que muitas vezes consome à risca o remédio que julga ser ideal. “Vou à farmácia, compro e tomo, mesmo sem receita médica. Quem está com dor sou eu”.
Igualmente despreocupada, a também aposentada Neida Maria da Conceição Martins é outra que ingere medicamentos sem prescrição. “Neosaldina e outros para dor de cabeça. Às vezes, até esqueço de tomar”, confessa. 
    Em outubro do ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou a proibição da compra de antibióticos sem receita médica. A determinação entrou em vigor um mês depois. O cliente deve comparecer à farmácia com duas vias da receita. Uma fica com o balconista e as informações vão para um cadastro nacional. A cópia é devolvida ao paciente, com um carimbo para mostrar que já foi usada.
Na cidade de Pitangui, à 61km de Divinópolis, Antônio Augusto de Freitas dedicou a maior parte da vida ao trabalho de farmacêutico. Ele diz que a procura indiscriminada por estes medicamentos ainda é alta e que a ordem da Anvisa não será sempre obedecida.



Entrevista

Antônio Augusto de Freitas é farmacêutico em Pitangui
Questões – A auto-medicação é perigosa?

Antônio Augusto de Freitas - Muito perigosa. Infelizmente, tenho uma infinidade de clientes que adotam este sistema e ignoram meus conselhos. Levam os remédios para casa e os tomam. Acho que a Anvisa agiu corretamente ao proibir a venda de antibióticos sem receita.


Q - Os clientes estão questionando esta determinação? 
AAF – Bastante. Explico a eles que leis existem para serem cumpridas e, por isso, não vendo sem receita. Porém, essa imposição deverá fracassar em pouco tempo. As pessoas tomam antibióticos até para unha encravada. Chegam à farmácia pedindo Benzetacil para dor de barriga. Mas, infelizmente, volto a falar, não vai funcionar por conta das condições financeiras do público. Não são todos os que conseguem atendimento imediato na rede pública. Até nas clínicas particulares os médicos não ficam disponíveis o tempo todo. 

      Q – Os farmacêuticos costumam agir como médicos, receitando medicamentos?
      AAF – Em alguns casos, sim. Mas a auto-medicação ocorre principalmente por orientação dos vizinhos. Porque a recomendação do vizinho costuma valer mais que as do farmacêutico e do médico. É onde mora o perigo. A pessoa sugere medicamentos sem saber se o doente consumiu outros tipos de remédios. Como conseqüência, surgem casos de intoxicação ou de resistência aumentada a anti-bióticos. 

Q – Quando a auto-medicação pode ser perigosa?
      AAF – Em vários casos. Por exemplo, quando se trata de dengue. Não existe remédio para essa doença. Muitos tiram do jornal a informação de que o melhor medicamento é o Tylenol e uma série de outros anti-térmicos. Não se deve tomar Aspirina. Em todos os casos, é melhor procurar o médico, a quem cabe dizer quais são os melhores remédios. Mas o paciente precisa dizer a ele o que tomou sem indicação. A combinação de uma droga já consumida com outras que serão indicadas pode contribuir para novos (talvez até piores) problemas de saúde.

Por Ricardo Welbert e Fabio Machado

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