CORDEL ENCANTADO: O FIM DA TRAMA E A INAUGURAÇÃO DE UMA NOVA FORMA DE SE PENSAR A NOVELA


Diferentemente do cinema, em que quem leva os créditos pelo sucesso ou fracasso do filme é do diretor, na novela o nome de destaque é o do escritor da trama. Isso porque a novela, que tem como sua essência a dramaturgia, se aproxima muito mais do teatro que do cinema propriamente. E assim como dito por um dos grandes gênios do cinema, Woody Allen, “a experiência de fazer um filme acontecer quando você faz o filme não é igual à de escrever o filme, enquanto uma peça de teatro é 95% o texto”.
Dessa forma, é impossível não parabenizar o trabalho de Thelma Guedes e Duca Rachid que se encerrou na última sexta-feira (23/09): Cordel Encantado – novela global das 18h. A trama que, por se tratar de uma novela ainda do começo da noite, tinha tudo para ser mais uma das histórias “água com açúcar”. Mas passou longe disso: se tornou não só um dos grandes marcos de audiência da Rede Globo, como também trouxe um novo olhar do telespectador e uma fascinante forma de se fazer telenovelas.
Cordel Encantado se aproximou do cinema em relação à direção de fotografia e narrativa. A poesia no texto dos personagens e a saturação das cores em contraste com a luz e a escuridão são exemplos disso. A novela se aproximava de grandes sucessos do cinema e da TV como O Auto da Compadecida, Lisbella e o Prisioneiro e Hoje é dia de Maria. A semelhança não está apenas na narrativa ou na direção de fotografia, mas também na escolha de cenários e contextos nacionais para serem utilizados como referenciais sociais: o nordeste. E claro, a literatura – neste caso, como indica o próprio nome, a famosa literatura de cordel.
Além desses elementos, outros fatores que determinaram o sucesso de Cordel Encantado foram o figurino de Marie Salles e Karla Monteiro e o elenco, que foi escolhido a dedo. Um destaque especial para Bruno Gagliasso, que teve uma das melhores atuações desde sua estréia na TV. Com o personagem Timóteo ele incorporou o principal vilão da trama.
Outro destaque especial para a abertura da novela: uma animação em 2D que remete bastante às ilustrações de cordel, além de trazer elementos essenciais do nordeste, como a figura do cangaceiro, as árvores secas e a cor fria da animação. E claro, a música de fundo não poderia ser mais bem casada: Minha Princesa Cordel, de Gilberto Gil em parceria com Roberta de Sá, que remete também ao cenário nordestino.
Enfim, Cordel Encantado marcou o início de uma nova forma de se fazer novela, tanto na utilização das técnicas e tecnologias, quanto na narrativa que trouxe à tona o que há muito tempo se dava por esquecido (ou apenas uma tentativa disso) na teledramaturgia brasileira: a novela como lugar de imaginação. Fica mais que comprovado que, para se fazer uma boa trama, não é necessário ser 100% fiel à realidade social, econômica e política do país. Afinal, de realidade os telespectadores já estão cheios, o fascínio está em poder sonhar sem sair do lugar.
Para demonstrar o tamanho sucesso da novela das 18h basta analisar as estatísticas. No último episódio, a audiência da novela alcançou 32 pontos no Ibope, o que indica que de todos os aparelhos televisivos ligados no território nacional durante esse horário, mais de 50% estavam sintonizados na trama global.




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