NÃO SOMOS A SALVAÇÃO. OU SOMOS?


De repente,  todas as apostas de que o mundo vai melhorar foram depositadas em nós, jornalistas. Quando na verdade nossa missão tem como base apenas contar e narrar histórias das personagens que agem e fazem o mundo girar. Caso busquemos na internet definições para jornalismo, obteremos como resposta nada muito além de lidar com notícias e divulgação de informações factuais. Mas isto é raso, não define a função do jornalista por completo.
No dia-a-dia, durante a intensa jornada de trabalho, que exige muito jogo de cintura para lidar com os vários tipos de entrevistados, encontramos cada vez mais pelo percurso alguém que acredita que temos a solução para todos os problemas. É como se ao aparecer com o gravador, microfone e principalmente com a câmera, trazemos junto um “pozinho” mágico.
E de repente termina a entrevista sobre a falta de calçamento, e a senhora logo diz:
– Falei bem?
– Sim, ficou ótima. Muito obrigada!
– Quando será que a nossa rua será calçada agora? A gente não aguenta mais! Mas agora que vocês vieram, o prefeito tem que fazer alguma coisa. 
E isso se repete várias vezes ao dia.
Na volta para a redação, o olhar do jornalista é distante, pensa e repensa sobre a fala da senhora que sofre há anos com a falta de calçamento. Se pudesse, iria pessoalmente até o prefeito para tratar sobre o assunto. Mas pensa: faço quatro reportagens por dia, a maioria sobre reclamações, problemas, denúncias. Está fora do meu alcance e não é meu dever solucionar os problemas das pessoas. Mas para e ainda se lembra de como os pedidos dos moradores são tão carinhosos e verdadeiros.
Chega a ser instigante. Existe uma confiança de que assim que o jornalista chega ao local, escuta e grava com os moradores e a matéria vai ao ar, os problemas serão resolvidos, sanados. De onde surgiu isso? Talvez das inúmeras denúncias que os jornalistas já fizeram sobre políticos corruptos, demonstrando assim que estão do lado da verdade, e por conseguinte do povo.
As pessoas se identificam com os jornalistas. Depositam todas as suas “fichas”, sonhos, de que nós, pobre mortais como eles, vamos ajudá-los. Acham que somos super-heróis em defesa dos oprimidos, dos esquecidos, dos nunca antes ouvidos. Nós não o somos, não conseguimos salvar ninguém. Damos direito à voz, nada mais. Contamos as histórias e rezamos para que tudo se resolva. E eu acredito que juntos, podemos fazer a diferença... É com essa vontade que realizo o meu trabalho todos os dias.
Redação: Júlia Medeiros | Edição: Larissa Moura

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