MODERNOS INDÍGENAS

Ao contrário do que muita gente imagina, os índios brasileiros estão cada vez mais em busca de atualizações e conhecimento, pensando em trazer mais educação para suas aldeias. Exemplo disso acontece na tribo dos Pataxós, em Itapecerica, MG.

     Em 1500, estima-se que havia entre 2 milhões e 5 milhões de índios. Hoje esse número não passa de 400 mil em todo o Brasil. Cerca de 50 dessas almas vivem na aldeia "Muanomanti", em Lamounier, distrito de Itapecerica, onde chegaram na década de 1970.
Acesso ao celular não impede a manutenção das tradições
     Para ir à aldeia dos Pataxós, em Lamounier, não é necessário um bimotor em um voo arriscado ou embrenhar-se mata a dentro, muito menos horas de barco rio acima. No caminho entre a capital Belo Horizonte e a cidade de Itapecerica, basta pegar a rodovia BR 494, entrar na MG 260, no Centro-Oeste de Minas Gerais, e, após 22 KM a caminho de Itapecerica, é possível avistar uma placa com o nome da aldeia dos Pataxós. Tudo asfaltado.
     No primeiro contato entre a equipe de jornalismo e a tribo, o anfitrião Canaxo, dentre muitos "uais" e meias palavras, disse que nosso encontro seria impossível aos finais de semana devido ao seu compromisso na capital mineira, na Universidade Federal de Minas Gerais, onde gradua-se em Antropologia. A visita à tribo ocorreu em uma tarde agradável, com todas as crianças da aldeia caracterizadas. Canaxo, tem cabelos cheios, pretos e lisos, usa sempre jeans, camiseta e chinelo havaianas. Embora o sol seja muito quente naquela região e ruim para a terra, ele não usa filtro solar, afirmando que a sensação de se sentir melado é muito ruim. As casas da aldeia são todas de alvenaria, não pela falta da palha de uma espécie de coqueiro que não é específico da região, mas, por medidas de seguranças, inclusive, são vistoriadas. Os pataxós têm celular, mas ainda estão sem internet, afinal, o sinal também é precário na cidade. Há muito comércio miúdo na aldeia de “Muanomanti” – que na linguagem da tribo significa “moita de mato”. Mesmo a quase 30 km da cidade mais próxima, as mulheres fazem artesanatos e os homens fazem o roçado para venderem em feiras da região. 
     O estudioso Canaxo, ao apresentar uma parte do território da aldeia, pouco mais de 10 hectares, diz que seus estudos no curso de Antropologia "ajudam a guiar a tribo para aquilo que é do índio e do que é do não índio". Ao estudar Antropologia na UFMG todo o seu esforço se volta para entender as mudanças ocorridas em sua cultura e de seus pares. “É importante conhecer a cultura do não índio”, diz. A linguagem utilizada pelo nosso guia para apresentação da tribo tem um português impecável. Às vezes, ele  fala como um índio tateando o português e engolindo algumas preposições, o que é típico. Todo repertório acadêmico adquirido por Canaxo é repassado em um espaço da tribo usado como “sala de conhecimentos”, onde existem livros e cadeiras. Segundo o Pajé, os ensinamentos são desde a “preservação da cultura Pataxó (com todos os rituais) ao estudo de como vive o homem branco em sociedade hoje”.
     Porém, na culinária, não há tanta resistência. Eles se conformam em comer um pão de queijo tradicionalmente mineiro feito em fogão à lenha. Em conversas com os índios da aldeia é possível perceber que os quase 50 habitantes não abrem mão de atendimento à saúde. Na vacinação de 2010 contra a epidemia da gripe H1N1 foram os primeiros a receberem as doses.

Por Fabrício Terrezza
Edição Tatiane Fonseca

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