Tempos que não voltam mais?

A agonia dos teatros de Itaúna inviabiliza a arte da representação na cidade
Por Lidiane Medeiros e Mairon Túlio

Silvio de Matos e Vânia Campos. Esses teatros são destaques no centro-oeste mineiro. Localizados em Itaúna, esses espaços são e já foram lugares onde passaram artistas revelações e de renome. Hoje, o teatro Silvio de Matos encontra-se fechado. Está em reformas há quatro anos. Protestos contra seu fechamento surgem de forma uniformizada. Mas, afinal, o que realmente acontece nas artes cênicas em Itaúna?

Teatro Silvio de Matos

Em 1988, foi inaugurado o teatro Silvio de Matos. O nome é uma homenagem a um artista de mesmo nome, uma personagem que se notabilizou na cidade por seu grande entusiasmo com as artes. Ele não atuava, mas escrevia e ficava nos bastidores. Fazia cenário, luz, montagem de palco e figurino. Lutava realmente em prol das artes cênicas em Itaúna.

Janet Rodrigues, Diretora do Museu Municipal Francisco Manuel Campos, de Itaúna, conta que desde 1917, com a criação do Grêmio Dramático Silvio de Matos, as movimentações dos atores itaunenses se efetivaram. “Mário Matos e Silvio de Matos foram pessoas importantes na história das artes cênicas da cidade. Mário Matos produziu várias peças de renome, como ”Cigarra do sertão”, de 1924, que atualmente foi reapresentada e muito elogiada pela crítica”, diz Janet.

Vânia campos foi uma professora que, com ajuda de seu pai, incentivou muitos jovens a se apresentar e correr atrás do sonho de ser ator. “Ela montava as peças em sua própria casa. O pai, José Campos, a apoiava e ela unia os atores para ensaiar, com nenhuma estrutura”, explica Janet. Infelizmente, Vânia morreu muito jovem. Restou a homenagem a ela: um teatro da cidade ganhou seu nome.

Vânia campos

Atualmente, Itaúna vive uma época em que há muitos artistas, mas pouca união, diferente da época passada, em que os poucos que haviam se sentiam envolvidos em lutar por aquilo que queriam e faziam acontecer.

De acordo com Zanilda Gonçalves, que trabalha com direção teatral, é formada em dança, coreógrafa, atua e tem um grupo de teatro em Pará de Minas, o Maracutaia, os atores atualmente em Itaúna não estão unidos para uma vontade em comum. “Itaúna é um berço de artistas. Falta uma maior profissionalização. Existe uma individualização, a partir daí, se criam estereótipos. Os artistas não conhecem um ao outro, não têm contatos e acabam criando uma má imagem”, explica Zanilda.

A situação do teatro Silvio de Matos atualmente traz uma tristeza não somente para a classe de artistas, mas também para a cidade, que perdeu um palco onde se apresentavam grandes nomes do teatro regional e nacional. O teatro, que tem capacidade para 383 pessoas, foi fechado para reformas. De acordo com Zanilda, os ajustes consistem em trocar todas as cadeiras e todo o carpete do teatro. A ventilação também recebia reclamações por estar deficiente e a instalação de um elevador para deficientes físicos também está previsto.

De acordo com Zanilda, o teatro não precisava ser totalmente fechado. “Não eram todas as cadeiras que estavam estragadas, não precisava tirar todo o carpete. Fechar o teatro por quatro anos para uma reforma é uma tristeza para a cidade”.

Paulo André, 24 anos, que nos últimos cinco anos trabalhou como técnico de teatro e produtor executivo, concorda que a situação dos teatros em Itaúna não é das melhores. De acordo com ele, o Vânia Campos, hoje, tem uma ótima estrutura, se compararmos com os teatros do interior do Brasil. No entanto, diz, falta uma administração mais dinâmica. O teatro Vânia Campos só tem essa possibilidade de modernização pelo fato de ser particular.

A maior indignação de Paulo, todavia, é em relação ao Teatro Silvio de Matos. “Temos um Teatro Municipal, que tem estrutura física superior ao Vânia Campos, mas que, por fazer parte da máquina pública, vem sofrendo ao longo dos anos de má administração e abandono. Isso é visível na cidade. É um grande teatro jogado no lixo”, desabafa.

Hoje, Itaúna conta apenas com o Vânia Campos, que com seus esforços, luta para o teatro na cidade não ser totalmente desativado. A esperança é que Itaúna volte a ser aquela cidade, que recebeu artistas como Mário Lago, Fernanda e Oswaldo Montenegro e Regina Duarte. Que volte a ser o Município que organizou o 1º Festival Nacional de Teatro. Enfim, que teve a utilização plena dos teatros da cidade. Aquela onde Silvio de Matos e Vânia Campos já tiveram o prazer e o orgulho de morar.

Mario Lago no teatro Silvio de Matos

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