Minas Gerais e o independente

Com poucos recursos, produtores de cinema do interior do

Estado optam pela única forma de manter sua arte: a independência

Por Lidiane Medeiros e Mairon Túlio

Trabalhar com cinema não é nada fácil. Quando esse trabalho é feito no interior de Minas Gerais, e sem nenhum apoio financeiro, tal tarefa se torna ainda mais difícil. Henrique Frederico, 23 anos, morador de Itaúna, entrou nessa batalha junto com amigos para tentar mostrar que cinema pode ser feito independentemente de grandes patrocínios, e que não é apenas aquele feito em Hollywood.

Há três anos, o jovem começou a se dedicar à sétima arte. No início, era apenas expectador, mas, em 2006, se aprofundou em trabalhos relacionados a vídeos. “Um grande amigo construiu um site chamado “Alguma Coisa de Cinema”, em que trabalha com filmes independentes. Desde o primeiro curta-metragem, acompanhei as gravações e gostei muito. Foi o meu primeiro contato com a arte pura do cinema. Trabalho com música há cerca de sete anos, e assim comecei a trabalhar, junto com esse amigo, em trilhas sonoras para seus trabalhos”, lembra.

O primeiro filme feito pela equipe em que Henrique trabalha se chama "Esse é meu garoto", de 2005. A produção foi o vencedor do festival de Brodowski, em São Paulo, na categoria “um minuto”. “O perdedor”, segundo filme, foi feito em 2006. O curta teve uma grande repercussão e ficou com o 2º lugar para melhor filme independente, no mesmo festival paulista.

Mas as coisas não são fáceis para aqueles que pensam em viver dentro das produções cinematográficas. Para conseguir tal proeza no Brasil, só com projetos bem elaborados e muita boa vontade, como explica Juliana Morais, 19 anos, formada na Escola Livre de Cinema, em Belo Horizonte. “Críticos, conseguem viver falando de cinema. Mas viver como diretor ou apenas estudando cinema aqui no Brasil, acaba sendo uma utopia.”

Juliana diz que a divulgação de festivais onde os produtores podem mostrar seus vídeos tem sido um problema, pois quando eles chegam a saber do evento já é tarde. “Já perdi muitos festivais por ficar sabendo só depois de as inscrições terem sido encerradas.” A jovem diz também que Minas Gerais tem um grande potencial para produzir curtas, mas que infelizmente longas metragens independentes só são possíveis, se forem produzidos com um orçamento muito baixo.

Em Minas Gerais, as mostras de cinema vêm aumentando. No site Porta Curtas (http://www.portacurtas.com.br/index.asp), durante o ano de 2008, já existem 14 festivais cadastrados e espalhados por Minas Gerais. Com várias categorias, como aquelas especializadas em curtas-metragens, festivais etnográficos, de vídeos GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), e também aqueles que só aceitam animações.

Como Henrique trabalha em uma produtora independente, que não consegue viver de suas produções, ele diz que a existência dos vídeos feitos pela produtora em que trabalha só é real porque existem amigos unidos a um fim. “Arte é apenas questão de amor, não profissão. Eu tenho minha profissão, sou Programador de Sistemas e estou graduando em Ciência da Computação. Tenho minha banda e também faço por amor assim como o cinema. Gosto sempre de deixar isso bem claro” esclarece.

Dentro das artes, Henrique acredita na independência, tanto do cinema como da música. No novo curta feito pela equipe, “Alguma Coisa de Cinema”, que leva o nome de “Pigs on the Streets”, tem como trilha sonora a música de mesmo nome, tocada pela banda de Henrique. “Inicialmente o filme seria um mero vídeo-clipe da minha banda - Iguan White and His One Man Band -, mas pensamos melhor e decidimos fazer um curta mais elaborado”, explica. (Veja abaixo o filme)

O estudante de computação leva tão a sério a palavra independente que sua “banda” é composta apenas por ele. Henrique canta, toca guitarra e usa seus pés para tocar bateria. Desse modo, conseguiu gravar e lançar seu cd, que se encontra disponível na internet (http://www.myspace.com/iguanwhite), além do lançamento por uma gravadora da Alemanha, que prensou em formato de vinil 100 discos. Para ele, a web só veio a ajudar, tanto para a música como para o cinema. “A rede em si passa de um a um. Isso permite que tenhamos visitas e visualizações de filmes pelo mundo todo”, analisa.

E é através do site que os artistas e produtores conseguem contatos com muitos colunistas, cineastas, jornalistas e produtoras de vários locais ao redor do mundo. Esse é um modo fácil e dinâmico de divulgação no qual conseguem críticas e colaborações para que possam melhorar seus trabalhos.

Por enquanto, a equipe de Henrique prefere centralizar os trabalhos no modo independente. Mas entendem que, se precisarem de uma maior infra-estrutura, necessitariam de um patrocínio. “Estou trabalhando num roteiro para um longa metragem. Esse filme necessita de uma estrutura e uma produção maior. Iremos verificar as oportunidades e podemos solicitar algum patrocínio. Mas escolhemos preferencialmente pelo independente”, enfatiza.

Veja abaixo o filme “Pigs on the streets":

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