Entre a cruz e a caldeirinha

Jubileu do Senhor Bom Jesus atrai várias pessoas para o distrito de Angicos

Por Cristiane Lopes e Mara Gontijo

O pequeno distrito de Senhor Bom Jesus de Angicos, localizado a 11Km da cidade de Carmo do Cajuru, é o povoado da região que mais cresceu nestes últimos anos devido à promoção das festas religiosas. Segundo dados do Cartório Eleitoral de Carmo do Cajuru, “Angicos” conta com 830 habitantes residentes e cerca de 330 pessoas morando nos povoados arredores, como Jacarandá, Olhos D’água, Santo Antônio de Angicos e Catana. No período de 10 a 14 de setembro esta estimativa chegou praticamente a dobrar, devido a tradicional Festa do Senhor Bom Jesus. De acordo com a Polícia Militar, neste ano o Jubileu do Senhor Bom Jesus recebeu uma população flutuante de, aproximadamente, mil pessoas por dia.

O 59º Jubileu atraiu para o distrito pessoas de vários municípios vizinhos, principalmente das cidades de Divinópolis e Itaúna. É o caso do pedreiro itaunense Orestes Valadares, de 65 anos, que há oito anos participa da festa do Senhor Bom Jesus. “Estou aqui pagando uma promessa. Eu gosto muito de Angicos, o povo é muito humilde, hospitaleiro, trata a gente muito bem”, conta Orestes.

Muitos romeiros ainda seguem a tradição e vão a pé, como forma de agradecer os milagres e pagar suas promessas. Hoje, o percurso é feito geralmente por meio de carros e motos, o que acaba provocando transtorno ao povoado. O fluxo de veículos aumenta ainda mais com as várias linhas de ônibus que levam os fiéis para as festividades.

Além dos devotos do Senhor Bom Jesus, um grande número de comerciantes ambulantes montaram suas barracas ao redor da praça. Vendem de tudo um pouco, desde roupas e alimentos, até produtos eletrônicos. As barracas são montadas no início da festa religiosa e ali permanecem até o final do evento. Uma mistura entre profano e religioso, pontuada, além do comércio variado, pela danceteria, que atrai sobretudo os jovens dançantes até altas madrugadas.

O soldador Henrique Aquino, 21 anos, conta que participa do Jubileu desde seus 12 anos, mas confessa que, apesar de rezar para o Senhor Bom Jesus, vai a Angicos para se divertir com os amigos, paquerar e até fazer um pouco de bagunça.

Jovem operador de máquinas, João Paulo de Oliveira, 22 anos, parece ter a mesma opinião de Henrique. Ele aponta o movimento como um dos principais motivos para ir ao povoado. ”Eu gosto muito de vir em Angicos, fazer novas amizades, distrair da rotina, visitar as barracas”.

A cada ano, diminui o número de pessoas que vão ao local para rezar e aumenta o de pessoas que para lá deslocam somente com o intuito de consumir bebidas e participar de bailes. Segundo a Policia Militar, há um incremento da violência durante o período de comemoração do Jubileu. É inevitável, que o uso de bebida alcoólica e outras drogas ilícitas – inclusive, obviamente, com a presença de seus comerciantes, os traficantes - seja fator de descontrole, muito além dos transes religiosos. Com elas, crescem também as possibilidades de delitos dos mais variados.

O Tenente Evandro Campos confirma o aumento das ocorrências feitas em 2008, durante a festa do Senhor Bom Jesus. “Apenas na sexta–feira, houve quatro ocorrências. Foram presos um traficante, dois usuários de drogas e um indivíduo que portava uma faca”, diz. Números, é preciso lembrar, de uma festa religiosa que reúne pouco mais de mil pessoas diariamente.

Box

O primeiro Jubileu do Senhor Bom Jesus de Angicos foi em 1949. A cada ano o movimento foi aumentando, atraindo peregrinos até de cidades distantes. Nos dias do Jubileu, que começava dia 11 e 12 de setembro, o Padre João Parreiras Villaça transferia a sede da Paróquia para aquele povoado. Cajuru ficava quase deserta.

O dia 14 de setembro foi o escolhido para a celebração do Jubileu porque, Santa Helena, mãe do imperador Constantino Magno, teria encontrado a Cruz de Cristo, por ocasião de uma visita aos lugares santos da Palestina, depois do ano de 324. Tradição que, transportados aos nossos dias, trazem mais do que lembranças.

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