Profilaxia para um sistema doente

Poucos são os que parecem de fato querer discutir a crise do sistema de saúde
brasileiro como um problema de foco na doença e não na promoção da saúde
Por Gustavo Melo
A saúde pública em Divinópolis, assim como em todo o Brasil, reflete a falta de aparelhamento dos hospitais, faltas de vagas, funcionários mal remunerados, médicos insatisfeitos com seus salários e a ineficácia de um sistema de saúde que precisa ser reformulado no país.
A saúde na cidade pede socorro, com uma redução de cerca de 50% dos leitos disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Pacientes esperam meses por um atendimento gratuito. As vagas que anteriormente eram controladas pelos hospitais e a secretaria municipal de saúde (Semusa) estão sob a responsabilidade do Estado desde maio deste ano. O secretário municipal de saúde Vanir Andrade diz que hospitais privados têm deixado de atender pelo SUS alegando baixa remuneração paga pelo sistema.
Uma saída para quem não quer ficar na dependência do SUS é pagar por um plano de saúde privado. Para quem não tem dinheiro, a saída é mesmo esperar meses para conseguir uma consulta. Para tentar driblar a crise dos hospitais, uma das alternativas são os trabalhos de promoção de saúde que visam melhorar a qualidade de vida das pessoas percebendo os determinantes sociais e não apenas a cura de doença.
A promoção de saúde, segundo a Professora de enfermagem e Fisioterapia Fernanda Rocha, da Funedi/UEMG, não é um assunto novo e inovador e sua proposta não é solucionar o problema da crise dos hospitais públicos.
De acordo com a professora Fernanda Rocha, a primeira discussão sobre o tema aconteceu no Canadá, num fórum de saúde. No Brasil, a promoção de saúde chegou por meio da elaboração de um plano nacional de promoção de saúde que foi implementado em 2005. A professora lembra que um plano de promoção de saúde deve focar na qualidade de vida - ou seja, na redução da vulnerabilidade e riscos a saúde, relacionados a seus determinantes e condicionantes: modos de viver, condições de trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura e acesso a bens e serviços essenciais. Trata-se portanto de mudar o foco: ao invés do doente, o cidadão, justamente para que ele não necessite ser atendido em hospitais e centros de saúde.
Limitações Fernanda Rocha vê um grande problema para implementação dessa proposta no país, que já se acostumou com um modelo secular, conhecido pela população que se automedica, um regime propagado pelos médicos e profissionais de saúde, comercializado pelas indústrias: o modelo curativo, que vem reforçado pelo poder econômico, pela indústria hospitalar - que favorece muito o modelo curativo – e pela indústria farmacêutica.
A discussão sobre promoção de saúde para a profissional de saúde deve vir acompanhada da pergunta sobre o que é saúde para as pessoas. A saúde, de acordo com Rocha, especialista em saúde coletiva, não passa somente pelo biológico. “Se a pessoa não tem lazer, não tem trabalho, mora em condições ruins, o local não tem saneamento, se a pessoa vive sob a questão da violência, tudo isso somado gera um adoecimento e uma má qualidade de vida”, diz a professora.
Falar de promoção de saúde para Fernanda Rocha não é falar somente da secretaria de saúde. “Pensar a saúde em sua integralidade significa uma ação conjunta com a secretaria de meio ambiente, com a secretaria de educação, com as ações de lazer, obras públicas, saneamento, asfalto, esgoto, tratamento de água”, raciocina a professora. Rocha sugere uma mudança do termo para promoção de vida, ao invés de promoção de saúde, “porque vida todo mundo tem que cuidar”.
Na Funedi/UEMG, os trabalhos de promoção de saúde e saúde coletiva são desenvolvidos pelos alunos dos cursos de Fisioterapia, Enfermagem, Psicologia e Serviço Social na UNIR, uma unidade de reabilitação do hospital São João de Deus, em Divinópolis, no qual os estagiários dos últimos períodos dos cursos da área de saúde trabalham corpo a corpo com uma equipe já está instalada no modelo de promoção de saúde.
A universidade, juntamente com o UNIR, tem proposto seminários de discussão que acontecem permanentemente. O próximo irá acontecer no dia 30 deste mês e irá abordar o tema visando à transdisciplinaridade. Além disso, é feito um trabalho educativo sistemático junto à população, chamado de “trabalho de sala de espera.” Toda semana, uma equipe transdisciplinar debate com os pacientes uma temática, escolhida pelos próprios usuários. O olhar é sempre complexo e mais do que apontar as soluções alopáticas – a forma como vem sendo tratada a saúde no país -, assuntos como diabetes, hipertensão entre outros são motivo para discutir a cidadania brasileira.

Post a Comment

Comente essa matéria

Postagem Anterior Próxima Postagem