Nunca tinha visto um show d’ O Teatro Mágico. Não tinha ouvido nenhuma música por inteiro, apenas trechos, frases, tudo muito lindo e poético. Portanto, quando a Secretaria de Cultura de Divinópolis anunciou a vinda da banda de Osasco, SP, pensei: “é a oportunidade”.
Minha irmã mais velha (O Anjo Mais Velho?) veio de BH só para ver o show. Tá, não foi só para ver o show, ela veio resolver pendências em sua conta em um banco que quer tudo de você, menos que você abra uma conta lá (ok, isso é tema para outra crônica...) e aproveitou para vir à cidade em data próxima à data da apresentação.
O evento fez parte da Rua Do Rock, que ocorre uma vez por mês no final da Rua Pitangui, e representou a abertura das comemorações ao centenário da cidade do Divino. Logo de cara comecei a me indagar sobre o tipo de “fauna” que encontraríamos naquela tarde que teimava em não chover, apesar das nuvens no céu.
A galera de Belo Horizonte em massa vestida a caráter de nariz de palhaço e camisas com trechos das músicas. Minha irmã a todo o momento era interpelada por algum fã da banda, ora para comentar a camiseta que ela usava, ora para chamá-la a participar de um grupo no facebook. E tinham os nativos, gente com camisa de bandas nacionais ou black metal, grupos GLS, galera do “ôba-ôba”, patricinhas avulsas e eu!
Corta para o palco da Rua do Rock. As bandas de Divinópolis se apresentavam (foram oito no total) felizes – ou não. Chegamos a tempo de ver a banda Mull, já tradicional nos palcos da cidade. A banda enfrentou um certo hiato e agora está de volta e trataram de se apresentar: “Nós somos a banda Mull e só tocamos composições próprias.” Até aí tudo bem, mas nos instantes seguintes o que se viu foi uma réplica dos famosos shows de Tim Maia. “Retorno, ó o retorno”. Quando não era o retorno, era a caixa de som, ou ainda a falta de distorção. O vocalista chegou a esbravejar: “Galera, de boa! Rock tem que ter distorção, né?”. A guitarrista e backing vocal, bonitinha (parecia uma Sandy From Hell) emendou: “Ah, vou parar de tocar a guitarra e vou só cantar então”. Não, moça, por favor! Já não tava bom com a guitarra... ai! Desceram “a lenha” no som do evento, mas no final parabenizaram a iniciativa e disseram que esperavam tocar lá novamente. Meio discrepante, não é? Não entendi nada. Aliás, essa não foi a única incoerência do dia 31/03, mas vamos adiante.
Próxima banda era Akira e estes sim, apesar de terem o mesmo repertório há um tempo, sabem muito bem o que é bom para agradar uma galera diversificada em uma tarde de chove ou não chove, em um show gratuito, onde o que vale é fazer a exposição de sua figura musical e nada de muita planfetagem ou ideologia. Já mandaram um duo de Bon Jovi e na segunda música da banda, uma das antigas, a plateia voltou para frente do palco e soltou a voz. Não pude deixar de comentar com minha irmã que metade do pessoal que tava ali não era nem nascido quando aquela música estava nas paradas.
Minha irmã ansiosa, vamos para a frente do palco para pegar um bom lugar. Ou tentar... Os fãs d’O Teatro Mágico já estavam espremidos na grade. Mas qual não foi a minha surpresa! O que era aquilo? Um espaço de frente ao palco, cercado e cheio de cadeiras de plástico azul. Área VIP em show de graça? Nunca tinha ouvido falar, muito menos visto... só em Divinópolis mesmo. Mas o fato é que o acontecido não pareceu incomodar ninguém. Seria herança de toda a segregação cultural sofrida nos diversos eventos da cidade como Festa da Cerveja, Divina Folia, Divina Expô e afins?
Daí em diante era só esperar o show começar e torcer para a chuva, que já tinha ameaçado o dia todo, não cair. Mas primeiro, a fala do prefeito. Vladimir Azevedo tentou, veja bem, tentou iniciar um discurso, mas esperto, diante das vaias, não se prolongou muito. Vaias? Sim, de todos os lados. E, mais uma vez fiquei sem entender. Não queriam um discurso demorado? Ou acham que ele não é competente como prefeito? Ora bolas, ao menos, foi por meio de ações da prefeitura junto à Secretaria de Cultura e ao Comitê do Centenário, que ele trouxe O Teatro Mágico para tocar de graça. Isso não é bom? Tá certo que ainda acho que investimentos na saúde seriam muito mais úteis... e, não me entendam mal. A iniciativa é muito bacana, Divinópolis precisa de cultura e não de eventos baseados no consumo de bebidas alcoólicas, mas bate um certo desespero ao lembrar a demora nos atendimentos do Pronto Socorro Municipal. Neste caso, ao menos, venceu o “panis et circenses”. No entanto, mais uma para o hall das discrepâncias. O prefeito foi vaiado, mas o secretário de cultura Bernardo Rodrigues foi chamado ao palco pelo líder do grupo, Fernando Anitelli, para tocar piano e dançar e foi ovacionado pela plateia.
Vamos ao show. As músicas eram cantadas na íntegra a plenos pulmões pelos fãs, com direito a coreografias e afagos puros e extremamente delicados como a carta entregue a Anitelli estimando melhoras a seu irmão, inspiração da música mais conhecida – e por que não dizer a mais bonita – O Anjo Mais Velho. Tocante!
Nos dias que antecederam e sucederam a apresentação ouvi/li de tudo sobre a banda. Disseram que O Teatro Mágico era o Cirque du Soleil de pobre, que eram os Los Hermanos com acrobacias... Mas vou deixar aqui a minha impressão, já que fiz questão de ver para crer. Cirque du Soleil é algo muito complexo e até distante de nós. Quanto aos Los Hermanos, hum, pode até ser, pela poética das músicas e arranjos delicados, mas o fato é que meu ranço com a banda de Marcelo Camelo me impede de raciocinar direito e, verdade seja dita, nunca aprendi nada com a música dos Los Hermanos e foi o oposto com O Teatro Mágico. Deu para ver pelo clima na plateia, sem brigas, as diferenças sendo respeitadas, paz e amor total.
Aí, cheguei a uma conclusão. O Teatro Mágico, ao meu ver, é uma banda “hippie de autoajuda”. Por favor, não levem para o lado pejorativo de nenhum dos termos. O Teatro Mágico é uma banda do bem, que proporciona o fazer bem ao próximo sem ser chata. E com um plus! Ou melhor, pirotecnia, cuspidores de fogo, pernas de pau, acrobacias em arcos instalados a metros do chão. Um teatro/circense muito mágico, assim como as comemorações do centenário de Divinópolis e aqui deixo a interpretação livre.