O
que teria Steven Spielberg e o jornalista Tin Tin dos quadrinhos e série de TV
em comum? De acordo com o próprio diretor, a atração por uma boa história:
enquanto um a investiga, o outro se apropria de técnicas e tecnologias para
contá-la ao seu público. E foi exatamente dessa semelhança, o desejo de contar
histórias, que Spielberg entrou em uma das suas maiores experiências
cinematográficas: criar sua própria versão de As Aventuras de Tin Tin. O filme, que tenta ser fiel à originalidade
de Hergé, criador do personagem Tin Tin em quadrinhos, estreou em Bruxelas,
cidade natal do desenhista, no último sábado (22/10).
O
enredo do filme parece querer fazer uma contextualização geral do Tin Tin de
Hergé: a história mostra como o personagem conheceu o capitão Haddock, seu
melhor amigo, em uma aventura náufraga, na busca de solucionar o mistério que
envolve o navio de um antepassado do capitão. Para isso, os gêmeos Dupond e
Dupont, detetives desajeitados e amigos de Tin Tin, o ajudam a encaixar as
pistas. A trama é recheada de muita ação que vai do mar até os ares – Tin Tin
se arrisca, inclusive, a ser piloto, mesmo sem saber voar -, para demonstrar o
espírito aventureiro do jovem jornalista, que arrisca sua vida várias vezes em
nome do mistério. E isso, claro, sempre acompanhado por seu fiel escudeiro
Milu, cachorro de estimação que possui um faro investigativo tão apurado quanto
do repórter.
Para
possuir uma fidelidade maior com o desenho de Hergé, Spielberg adotou uma nova
técnica do cinema proporcionada por seu formato digital: motion capture, a mesma utilizada em Avatar, que consiste em filmar atores reais e transformá-los em
personagens animados, em 3D, dando-lhe uma textura diferente da dos seres
humanos. O resultado foi fenomenal: o filme se aproxima tanto dos quadrinhos e
da série em desenho animado dos anos 90 que parece que os personagens e
cenários apenas ganharam uma dimensão a mais: a noção de profundidade. A
verossimilhança é evidente e impressionante, até mesmo de Milu, que foi o único
personagem criado totalmente em ambiente digital.
De
acordo com Spielberg, a escolha de se aproximar ao máximo da obra de Hergé foi
para fazer jus à obra do autor, admirada pelo diretor desde sua adolescência.
Para Spielberg, "Hergé foi um grande artista, ilustrador e escritor. Foi
um cineasta sem câmera". Ele ainda acrescenta que o quadrinista se
identificaria e gostaria da adaptação de sua obra para o cinema.
O
repórter é incorporado por Jamie Bell, que mesmo sem o tratamento digital se
assemelha bastante à feição do personagem original. O filme possui também, em
seu elenco, outras personalidades como Simon Pegg, Andy Serkis, Nick Frost,
Mackenzie Crook, Daniel Craig, Toby Jones e Gad Elmaleh.
Tin
Tin nada mais é do que um estereótipo de jornalista: o aventureiro, em busca de
histórias comoventes, que arrisca sua vida ao mesmo tempo em que se diverte,
sempre de tênis esportivos, topete levantado e repleto de bom humor, que
aprende sempre algo novo no final de cada história. Não é que todos os
jornalistas sejam assim, mas é a personificação exata de um jornalista
investigativo. O desafio de Spielberg e Peter Jackson (produtor do filme e
diretor de Senhor dos Anéis) foi
exatamente esse: lidar com um personagem real, que não fosse um extraterrestre,
nem possuísse poderes especiais ou mesmo alguma máquina ou objeto que lhe desse
o poder de voltar no tempo. Entretanto, o desafio parece ter sido superado,
pois a adaptação promete. Afinal, quem foi que disse que o cotidiano de um
jornalista não possui nada de anormal? O anormal mesmo é um jornalista que não
se mete em emboscadas.
O
filme, lançado em Bruxelas na última semana, entrará em cartaz primeiro no
resto da Europa e só então estreará nos demais continentes. A estratégia é um
tanto quanto inovadora já que o filme passará primeiro na região de “nascimento
de Tin Tin”. E apesar de o filme ter sido todo produzido em terras americanas
ele entrará em cartaz nos EUA apenas na véspera de Natal. A previsão para o
Brasil é 20 de janeiro de 2012.