FELICIDADE OU MORTE

Apesar de passadas algumas dificuldades nos asilos, a terceira idade ainda tira esperança para viver melhor em seus momentos de lazer


     A terceira idade é a fase da vida que requer cuidados básicos com a saúde. Os anos vividos trazem certa fragilidade ao corpo, que se não tomadas as devidas precauções, podem se agravar. Por isso, é preciso atenção da família e de todos que vivem ao redor desse idoso, de modo que ele não se torne uma pessoa sedentária, física e mentalmente. Para solucionar esta questão, muitos senhores e senhoras buscam passeios ao ar livre e outras atividades para sair da rotina e buscar melhorar o convívio social. 
    Logo após o almoço dominical, centenas de homens e mulheres da chamada terceira idade vão ocupando os espaços na centenária praça de Divinópolis. Debaixo das enormes árvores, em meio a luz do sol e sombra, as pessoas chegam, com bastante antecedência, para a famosa domingueira regada a muita música sertaneja. No grupo de vovôs os trajes são de gafieira: chapéu coco, roupas claras e muito perfume. Entre as vovós os vestidos são chamativos com cores estampadas. Em suma, os brechós estão em pleno desfile. Nos gestos está o carinho na forma de conversar, na atenção daquilo que é falado – também por alguma deficiência. Os assuntos são os mais variados: o êxito de um neto ou bisneto que se forma em uma federal ou as novidades sobre empréstimos consignados no ordenado”, mas tudo isso é para passar o tempo.
     São quase 15h e as tardes de domingo são as melhores para os flertes da melhor idade. O ingresso é R$ 7,00 para os senhores e R$ 5,00 para as senhoras. Um pouco antes da música começar, uma enorme fila se forma. Os olhares para os antigos relógios de bolso são incessantes. O enorme salão se enche, nas cadeiras e no espaço para dança. Alguns são desengonçados, outros espertos e o restante conhece bem o limite do corpo, mas a dança é frenética. A música é alta. Para quem assiste é um pouco constrangedor. No entanto, a cerveja é barata e toma-se muitas – aqueles que não tem hipertensão. O “arrasta pé” se realiza todas as terças-feiras e aos domingos.
     Na base da amizade e muito bom humor, Neusa Viera, frequentadora do forró desde 2001, diz que perdera o marido e que não quer outro marido. Agora, ela quer “apenas se divertir”. Foi no forró que ela conheceu o seu Milton, que também é viúvo e frequentador assíduo.Eu danço com Milton há três anos. Tenho uma marcapasso e já o avisei, se der choque não se assuste”, ela brinca.
No mesmo quarteirão onde funciona um velório, existe o “Forró dos Idosos”, o Bazar dos Idosos e o Lar dos Idosos. Todo o complexo do negócio é administrado por Padre Reni Nogueira dos Santos, da Catedral do Divino Espírito Santo. O forró é tradicional até para quem era jovem, funciona há 35 anos. Estima-se que todo o dinheiro vá para as Obras Sociais de Nossa Senhora Aparecida. Mesmo assim, Padre Reni afirma e reafirma que o déficit das contas chega a 12 mil reais mensais. No asilo, são mais de 50 acamados, além dos lucros com o forró, todos contribuem com 75% de suas aposentadorias para as despesas da moradia coletiva. O lado bom é exaltado pelo padre que diz que "os outros idosos, aqueles que não moram no asilo, tem pouca opção de lazer na cidade”. E vem gente de toda a região.
     Para a geriatra Shirley Campos o simples fato de se praticar uma atividade física, mesmo duas vezes por semana, melhora e muito a qualidade de vida as pessoas da terceira idade. “Além disso, a convivência é um fator que motiva os idosos terem e buscarem novos objetivos”, enfatiza. Mas, os movimentos devem ser bem calculados, pois uma queda pode ser o ultimato: aproximadamente 5 % das quedas levam a fraturas, sendo que as mulheres fraturam mais que os homens, mas os homens morrem mais de fraturas. Isso pelo fato de que a queda leva o indivíduo a ficar acamado, o que agrava mais a situação de saúde dele. Quando não ocorre fratura, a dor e a redução dos movimentos pode causar isolamento pela diminuição da autoestima, tanto pela queda quanto pelo aumento da dependência, alerta a geriatra. Mas com os devidos cuidados tomados, animação é o que não falta para a melhor idade "cair" no forró.

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