Nem só de rock vive o homem

A história de um produtor de eventos que leva até Belo Horizonte shows de bandas desconhecidas por muitos em Minas Gerais.

Por Lidiane Medeiros e Mairon Túlio

Muitas pessoas podem pensar que aquele visual famoso dos fãs de rock'n roll dos anos 50, baseado em topete, costeletas, jaqueta de couro e lambretas, ficou no passado. E com razão. Atualmente, é difícil ver espécimes e suas lambretas circulando pelas ruas das grandes metrópoles. Mas ainda é possível encontrar esse grupo quase em extinção. Marcelo Crasso, Produtor de shows em Belo Horizonte está vivo e ativo musicalmente para mostrar para aqueles muitos que pensam que esse estilo acabou estão enganados.

Marcelo Cândido da Silveira, ou Marcelo Crasso, 33 anos, fala com entusiasmo dos seus 22 eventos na carteira. O fã de bandas de rock é produtor desde 2005 e tem um quesito principal na hora de recrutar as bandas. “Nas festas da Mondo Crasso só lidamos com o lado mais selvagem e primitivo do rock'n roll.”

Mondo Crasso é a Produtora de eventos que Marcelo montou há quase três anos. Quando começou nesse ramo, ele fazia parte da Gangue da Caveira, uma de suas atuais concorrentes em Belo Horizonte. Com o tempo, Crasso preferiu seguir seu caminho sozinho. “A Mondo Crasso surgiu por causa de desentendimentos dentro da Gangue da Caveira. Tivemos algumas divergências quanto à escalação do 2º BH Rumble. Ai achei que era melhor sair da Gangue pra não perder os amigos e fazer minhas coisas do meu jeito.”

O Festival BH Rumble surgiu depois de Crasso ter visto na internet o BA Stomp, um Festival Argentino que trabalhava com bandas de garagem, surf, rockabilly e psychobilly, ou seja, o lado mais selvagem e primitivo do rock'n roll. De acordo com Marcelo, em Belo Horizonte já existia o BH Billy, que trabalhava com esse estilos. Mas o projeto não foi para frente. Atualmente, a capital mineira tem apenas dois eventos que trabalham com o público: o BH Rumble e o “Primeiro Campeonato Mineiro de Surf”, produzido pelo bar A Obra.

Atualmente, o BH Rumble é feito pela Mondo Crasso e pela Gangue da Caveira. O evento é o único no qual as duas são parceiras. E, neste ano, o Festival teve mudanças em sua estrutura. A edição de 2008 mudou de cara, foi parar na casa de show Matriz. “Foi a primeira vez que fizemos o festival fora da Obra.” O Festival teve a participação de bandas mineiras e paulistas. O evento foi totalmente independente, ou seja, todo lucro ou prejuízo que houvesse seria de responsabilidade dos organizadores. E foi prejuízo. O público ficou abaixo do esperado e as produtoras tiveram perdas que não esperavam.

De acordo com Marcelo, fazer shows não é muito fácil e tem que ter muita força de vontade. Crasso completa dizendo que receberam o apoio de vários amigos. “Não foi uma ajuda financeira, mas um apoio que não há dinheiro que pague.” Ano passado, conta, ele chegou a pensar em desistir depois de tomar dois prejuízos seguidos com shows de ótima qualidade, do norte-americano Rob K &, do paulistano, Uncle Butcher, e da Banda Alex Valenzi and the Hideaway Cats.

Além disso, Crasso tem de se sustentar, pois nem só de rock vive o homem. Marcelo é formado em filosofia e foi professor por 10 anos. Hoje, além de ajudar a produzir rock, trabalha como disciplinário numa escola pública. O Produtor gostaria de ter como profissão apenas os trabalhos como organizador de eventos, mas, de acordo com ele, o serviço na escola é o que paga suas contas e, muitas vezes, as da Mondo Crasso.

Dentro do rock'n roll, músicos de bandas de garagem, surf, rockabilly e psychobilly, não conseguem viver apenas como artistas. A musica vira hobby. Washington Luis, 32 anos, codinome Weasel Rocker, está nessa batalha há 16 anos. Desde a adolescência ele e os companheiros da Banda Asteróides Trio levam uma outra vida por trás do rock. “Eu trabalho como motoboy, o Leandro, vocalista e baterista, é arquiteto e o guitarrista, 'The Formiga', é inspetor de qualidade”.

O BH Rumble

O Festival acaba por ser uma diversão tanto das bandas como dos produtores. Crasso, a exemplo, com suas maracas em forma de caveira e com uma máscara de gorila, aparecia repentinamente no palco “maraqueando”, ou seja, usando maracas. Além dos topetes e das costeletas, foi possível encontrar com os participantes colares de flores, blusas florais e maracas, aquele chocalho muito utilizado por bandas de mambo. Durante alguns shows o local é tomado por rolos de serpentinas, trazendo mais diversão para o festival. Bem: rock 'n roll, ma non troppo.

Crasso se acha um cara teimoso e acredita que se não fosse ele ninguém mais faria os shows. Apesar de acreditar que se em Belo Horizonte chove, faz frio ou tem jogo as pessoas não saem de casa, ele vai para mais uma produção com uma idéia na cabeça: “Se eu não os trouxesse, ninguém traria e a cidade ficaria sem a oportunidade de ver uma banda da melhor qualidade.”

Às vezes, Marcelo acredita produzir shows só para ele, mas acaba se surpreendendo, como no caso do Festival Monobandas – bandas de um homem só – que já vai para quarta edição e tem sido um sucesso. O próximo show da produtora Mondo Crasso será cinco dias após o BH Rumble. Marcelo mais uma vez está apostando no sucesso do evento.

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