Divinópolis: a busca pelo desenvolvimento até as últimas conseqüências

Por Gracielle Castro e Wellington Carvalho
Nos últimos anos houve um significativo aumento de pessoas que saíram das zonas rurais e se mudaram para as cidades. O fenômeno do êxodo rural se tornou uma realidade na sociedade atual. Segundo dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), todos os anos 500 mil pessoas saem dos campos e chegam às cidades. Nos anos 70 a população rural correspondia a 44% da população total do Brasil; hoje esse número é de pouco mais de 20%.
Em Divinópolis não é diferente. A crença em uma vida melhor na cidade faz com que as pessoas deixem a vida rural e tentem se fixar no meio urbano sem o mínimo de planejamento. O resultado é o não cumprimento da promessa de melhora de vida – ao contrário, a degradação ao meio ambiente (incluído aí as próprias condições humanas) e o inchaço das periferias torna a vida das pessoas muito pior.
O crescimento desordenado da cidade de Divinópolis é uma realidade que preocupa os profissionais da área de engenharia. A engenheira civil Emiliana Maquiaveli Cardoso, coordenadora do curso de engenharia da FUNEDI-UEMG, afirma que o crescimento desordenado acontece principalmente quando não há fiscalização.
A engenheira explica que, para se realizar uma construção, é necessária a extração de matéria-prima, o consumo de recursos naturais e consequentemente a forma como os resíduos são depositados no meio ambiente causam danos ao meio ambiente. Daí a importância da fiscalização, do cumprimento das leis ambientais e o planejamento urbano.
Segundo Emiliana Maquiaveli, cada cidade que comporta um número acima de 20 mil habitantes deve ter um plano diretor. Em Divinópolis isso já aconteceu. “O Plano Diretor tem o papel de fiscalizar as obras, definir como a cidade deve crescer, para que lado, onde pode ou não haver construções visando sempre ao bem estar e segurança dos moradores e o mínimo de impacto ao meio ambiente”, completa a engenheira.
Em Divinópolis o que se percebe é que essa preocupação chegou tarde. A cidade cresceu muito em poucos anos e ainda não havia uma preocupação com o meio ambiente de forma ativa. A cidade invadiu os espaços inadequados, como áreas que deveriam ser preservadas e ainda há o agravante das construções clandestinas.
Muito além de um plano
Maria Antonieta Teixeira, socióloga e coordenadora de planos diretores de várias cidades da região, realizados por uma equipe multidisciplinar da Funedi/UEMG, diz que o problema não se limita à falta de fiscalização. O que vem à tona é um problema cultural desde a formação da cidade, quando se expandiu a economia industrial.
Segundo Antonieta, o crescimento da cidade, de forma desorganizada, é decorrente do crescimento industrial acelerado. “O investimento industrial cresceu e modificou a parte econômica e isso promove o crescimento desorganizado da cidade, uma vez que o processo de urbanização fica muito em função da questão industrial”, reflete a socióloga, apontando para a ausência do elemento humano: quando uma sociedade privilegia o econômico em prejuízo do humano, o resultado é mais cedo ou mais tarde negativo.
Fiscalizar é fácil, difícil é modificar a cultura de uma sociedade – e de suas lideranças políticas e econômicas. Está arraigada no imaginário das lideranças – e consequentemente da população - divinopolitanas a cultura do individualismo, da propriedade privada, do desenvolvimento industrial. A idéia de que a cidade deve ser cercada por prédios e indústrias e ter “cara” de cidade grande para ser considerada “cidade desenvolvida” é muito forte na vida dos cidadãos da Princesinha do Oeste.
Célia Pedrosa, também participante do grupo de Planos Diretores da Funedi/UEMG, diz que um planejamento urbano, ainda que tenha sido elaborado de forma democrática, não tem sua implementação garantida apenas por força da Lei. Torna-se necessária a formação de hábitos e costumes por parte dos gestores e da população, buscando concretizar o que foi proposto. “A educação tem o papel de promover a cidadania ativa, colaborando para a mudança de comportamentos individuais com impactos positivos no bem-estar da coletividade”, afirma Célia.
Para a socióloga, uma política ambiental somente será eficaz através da educação ambiental, da mesma forma que a preservação do patrimônio cultural ocorre, também, mediante a conscientização dos moradores. E completa “Evidentemente, que este trabalho não ocorre de forma isolada, mas, deve fazer parte de uma agenda política que tenha como objetivo o planejamento e a gestão democrática de uma cidade com justiça social”, finaliza a socióloga.
Como tirar da cabeça de alguém que ele não pode fazer sua casa naquele lote, porque vai causar males ao meio ambiente? Como convencê-lo a pensar no bem comum, na cidade como um todo, como um lugar de trânsito de pessoas, de vida em comunidade? A culpa não é do povo e não é da fiscalização. A verdade é que é absolutamente normal para cada cidadão que ele possa construir sua casa onde quiser. Pensar em meio ambiente, no bem estar social, na vida? Para quê? Muito além do Plano Diretor, responder essas questões significa uma sociedade e uma cidade que não sejam um amontoado de gente, mas verdadeiramente humana.

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